A História da Minha Terra

Os Celtas, os Visigodos, os Bárbaros, os Lusitanos, os Romanos, os Árabes, tantos e tantos povos que encheram de história esta pequena grande terra.
Quando a Ribeira de Santarém um dia for 'Amada' então os seus filhos e admiradores descobrirão que a História de Portugal é muito rica.
Esta a terra onde nasci, Princesa abandonada junto do rio que tanto lhe deu e tanto lhe tira.

sábado, 16 de agosto de 2014

SANTARÉM, AS BARREIRAS E A CANALHICE QUE VIVE DE TUDO ISTO

Quando os árabes chegaram à Península Ibérica, cedo se encantaram com a semelhança entre Santarém, o rio Tejo e o seu país.
As inundações cíclicas do Tejo, a riqueza das terras banhadas pelo rio e a fartura de água por toda esta região fizeram de Santarém, possivelmente, a Capital de um Reino Muçulmano.
Outros povos que por aqui passaram já tinham deixado as suas marcas com especial destaque para os romanos, mas foram os árabes que durante mais de quatrocentos anos não só manteriam o que já estava construído como aperfeiçoaram e desenvolverem.

De facto, a velha Scállabis romana foi ocupada pelos muçulmanos no ano 714 e passou a chamar-se Shantarin. Pelos seus conhecimentos de hidráulica, os árabes introduziram várias melhorias na agricultura praticada na região, algumas das quais ainda permanecem: valas de drenagem, diques e técnicas de cultivo, que foram importantes para o aproveitamento das potencialidades agrícolas das margens do Tejo. A palavra Lezíria, por exemplo, é de origem árabe, assim como outros termos ainda utilizados que identificam nascentes e poços (assacaias), pequenas cheias (alvercas ou azielas) ou tapadas e diques (amotas). Uma moeda sugere a função de Capital  de um reino árabe. Várias obras desenvolvidas na Ribeira de Santarém e no centro da cidade puseram a descoberto, nos últimos anos, um conjunto significativo de vestígios da presença muçulmana. Entre eles destaca-se um raríssimo 'Dinar' (moeda) de ouro descoberto no subsolo da Ribeira, cunhado em nome de um Emir quase desconhecido, Hacic-Jalib Muwafac. Esta descoberta veio lançar a dúvida, uma vez que os dados existentes referiam que Shantarin era uma cidade importante subordinada ao governo do emirado de Córdova (Espanha). O aparecimento desta nova moeda, com o nome de um Emir mais ou menos desconhecido, levanta especialmente a possibilidade de a cidade ter sido sede de um Reino Taifa.
É que este Emir não é referido na história do emirado de Córdova e era praticamente desconhecido, até agora. Subsiste, por isso, a possibilidade de ter governado Santarém e toda a região envolvente. O que podemos dizer é que a vocação agrícola de Santarém foi inventada pelos árabes, que construíram as obras de hidráulica, em que eles eram mestres e secaram os campos adjacentes à cidade, na maioria pântanos, através de diques e valas. Tudo isso permanece na toponímia da região, com expressões como valadas ou mouchões.
Esses árabes ao se aperceberem de que a linda Scállabis estava assente sobre uma mistura de argila e areia abundantemente enriquecida de água, de imediato decidiram de que haveriam de protegê-la. Iniciaram assim um conjunto de obras hidráulicas que visavam a drenagem das suas barreiras para que a sua sustentabilidade não corresse riscos, já que os romanos tinha apenas se preocupado com as estradas e as pontes sendo que algumas nascentes foram aproveitadas por estes para locais termais como foi o caso da chamada Mina do Pastor.

Quem como eu, conhece um pouco daquelas barreiras, sabe da quantidade enorme de túneis de drenagem existentes desde o vale que dá acesso a Alfange até ao planalto de S. Bento. Os árabes sabiam o que estava em causa e mantiveram sempre uma vigília constante nas suas obras hidráulicas. Vigília que se foi transmitindo através dos tempos até cerca de quarenta anos atrás. Depois surgiram os inteligentes especializados em gabinetes e o resultado está à vista. Recordo-me de na minha infância, quando tudo de moderno nos faltava, de passarmos o tempo em aventuras (e que aventuras) por aquelas barreiras e explorarmos todas aquelas 'minas' assim lhes chamavam os mais velhos  àqueles túneis de drenagem.
Não sei por ordem de quem, mas sei que a maioria daqueles túneis foram encerrados a tijolo e os mais importantes levaram portas de ferro com cadeados para que fosse possível a sua manutenção temporária.
Alguns desses túneis alimentavam e alimentam chafarizes que ainda se podem ver na estrada Santarém-Almeirim. Todos os anos lá iam os velhos funcionários da JAE limpar as minas para que aos viajantes nunca lhes faltasse água e aos animais.  As terras drenavam e aos sedentos se lhes matava a sede. Uma das minas que mais água tinha ficava junto da Porta de Santiago.






Há cerca de quarenta anos um casal de idosos ainda mantinha no local um pequeno terreno de cultivo com um tanque de cerca de quatro metros quadrados que lhes abastecia de água fresca e cristalina todo o ano. Era o idoso que todos os anos limpava a mina que abastecia a sua horta. Tudo acabou. Os srs. faleceram os mais novos foram para outras andanças e cerca de vinte anos depois, num inverno mais rigoroso toda aquela zona avançou dezenas de metros subterrando a estrada, obrigando a um novo traçado da mesma e colocando em risco as casas no topo da barreira.


Passando por esta porta e descendo o caminho medieval em direcção à Ribeira de Santarém logo após terminar o muro de sustentação que vemos nesta imagem (à esquerda do ciclista), a cerca de uma centena de metros temos ainda os vestígios de um chafariz de origem medieval que era alimentado por um outro túnel que fica cerca de trinta metros acima. Com a falta de limpeza desse túnel de drenagem o chafariz há muito que secou e a água está indo para outro lado. Os terrenos ali já desmoronaram um pouco, veremos o que o futuro trará.

Quem desce a estrada de Santarém para Almeirim mas decide mais ou menos a meio mudar a direcção à esquerda e entrar para a Calçada da Atamarma junto ao Bom Jesus das Almas, antes de o fazer  vai encontrar à direita umas ruínas de uma igreja.Igreja de Santiago que foi uma freguesia em tempos idos e mais recentemente armazém de ferro-velho. Por detrás dessas ruínas existiam dois túneis de drenagem, um que abastecia a igreja de água e outro mais acima que os residentes utilizavam para rega.
Foi aqui que as terras desmoronaram, em pleno verão. Até estou convencido de que a Igreja ainda contribuiu para que a coisa não fosse pior ao deter o avanço das terras. Manutenção dos túneis de drenagem? Nada. Até penso de que os idiotas que ocupam o burgo camarário tenham desconhecimento da existência desses túneis. No tempo da J.A.E. Junta Autónoma das Estradas, no tempo da outra senhora, havia uma equipa de trabalho que se ocupava da limpeza e manutenção dos túneis que rodeiam a cidade. A excepção eram as ditas barreiras das Portas do Sol cuja frente está virada para o rio. Aqui a responsabilidade estava (não sei se ainda se mantém) a cargo da C.P.- Caminhos de Ferro de Portugal. Ora as coisas entretanto mudaram, a J.A.E. foi substituída pela Estradas de Portugal e a C.P. está fragmentada até ao tutano. Como o dinheiro é pouco para os canalhas que se alimentam em ambas as organizações resta aos indígenas esperar que as barreiras não lhes caiam em cima no momento que possam por ali passar. 

Bonita a paisagem aqui de cima, a Igreja de Alcáçova e sua envolvente. Ao centro da foto em baixo onde duas árvores se destacam pela sua grandeza está o tal chafariz onde já não corre água há muitos anos. "Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura", lá diz o velho provérbio. Para que um dia não corra sangue é urgente saber para onde vai a água que percorre as entranhas de Santarém, parece que o projecto para sustentar todas as barreiras custa dezoito milhões de euros, sem derrapagem, se Santarém tivesse gente que a pensasse poderiam, deveriam de começar já. Uma equipe de dois homens seria o suficiente para iniciarem JÁ, a limpeza dos túneis de drenagem que os árabes construíram, depois viriam as grandes obras, ou estão à espera de que um dia a estrada que vai do defunto Rosa Damasceno às Portas do sol se corte em duas e arraste até à morte quem lá vive?

Fontes de pesquisa: Jornal Público e Google